30.8.12

O PARTO DAS ESTRELAS



Estou levemente triste, ansioso, pensativo, angustiado... nada que fuja daquilo que sempre sinto. São raros os momentos nos quais uma pena de leveza voa sobre minha alma inquieta. Não me preocupa essa oscilação permanente. Sei que dores e amores não são coisas a serem evitadas, mas superadas, principalmente quando se encontram. O que perturba a psique elevando a taquicardia e explodindo o peito, são alguns motivos para mim banais, para a maioria complexos e que não devem sequer serem cogitados. Motivos toscos, talvez, mas motivos meus.
Como se pode conciliar o conflito da alma, da inteligência, da consciência, da realidade interna e externa e de toda virtualidade possível e intangível ao real? O pensamento não consegue apreender e nem compreender para além dos limites da razão. E, para além desses limites, tudo é possível: Deus, Diabo, gnomos e dragões alados. Mas se algo é possível de ser pensado não pode também ser realizado? Ou por si só, já não é real?
Nietzsche dizia que é necessário ter um turbilhão dentro de si para dar origem a uma estrela. Mas porque alguém deve querer gerar estrelas? Elas sempre ficam distante demais e quando as vemos não as vemos, são apenas rastros luminosos de uma morte anunciada.
Vivemos entre a terra e o céu, o que não faz diferença alguma já que estamos sobre a superfície da esfera, em órbita e com a eminente possibilidade de sermos lançados no vácuo em segundos. Basta qualquer erro de física na organização universal da gravidade e da abóboda celeste. Mas quem organizou isso? Quem? Quem senão a mente humana? Por que devo confiar nessa mente se ela mesma diz não poder ir além dos seus limites?

Quem estabelece os limites?
Enfim, estou no turbilhão e não quero parir estrela alguma. Todas às vezes que ousei fazer isso, as dores do parto foram sempre menores que as dores do vazio na escuridão contemplando o brilho de algo que já não existe mais. Então, todos os signos perdem ou confundem seus significados.
O que resta? A teimosia de gerar mortes? A vida com suas regras medíocres de medrosos humanos escondidos sob o véu da ignorância? Um sentinela ao pôr-do-sol impedindo a luz justamente para proteger a luz? Uma poesia agonizando no seio frustrado? Um poeta morto, torto e desengonçado?
Enfim, estou levemente triste, ansioso, pensativo, angustiado... Nada que não fuja daquilo que sempre sinto... E lá se foi o brilho de outra estrela que já nasceu já morreu e já não é mais estrela, é apenas o brilho que fica. Será que o que importa não é justamente o que vem depois daquilo que se deseja?

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