26.10.12

MEDO CEGO


Ao findar a sexta-feira, os dias “úteis” foram encestados numa cesta feia aguardando serem lembrados talvez no final da tarde de domingo. Uma dose de uísque caia e sai do copo após outra. O conforto do lar guardava aquela solidão gostosa que só a coragem de saber estar só sem ser sozinho possibilita aos mortais. A poesia foi inevitável e a vida comum e normal dos felizes normais trafegava lá fora. O homem sozinho pensava, perdido em seus devaneios, em que pensavam os que passavam e se sabiam para onde corriam.
Num impulso de inteligência, paixão ou loucura, ele foi até a rua e interrogou, de súbito uma linda mulher:
- “Por que seu medo de viver agora mesmo aquilo que mais deseja?”
- “Para não correr o risco de perder.” Respondeu ela após se recuperar do espanto.
O homem fitou o olhar naquela linda jovem. Voltou para a solidão da sua própria companhia. Admirou a cesta feia, fechada com sexta-feira. Serviu outra dose e conclui que aquela mulher, porque vivia sempre com medo de "perder o chão", aprenderia, no final, que jamais tocou chão algum.



Nenhum comentário: