27.12.12

Devaneio na solidão


Cansado ou não.
Às vezes frustrado outras vezes entusiasmado.
A Eudaimonia se revela de forma estranha.
Ao invés de explodir no ápice ou includir no declínio, a verdade humana se revela e revela os homens na sua própria humanidade.
Assim, não importa como a felicidade contagia os outros ou não.
Importa, sim, uma garrafa de vinho ou um bom espumante,
um tabaco escocês manhosamente ajeitado no fornilho do cachimbo,
um livro da mais fina literatura sobre o colo,
Toquinho e Vinícius "choramingando" uma Bossa Nova, bem baixinho e
toda essa infinita e pesada leveza da alma que transborda a existência poética....

24.12.12

De volta à infância

Gosto desses dias nos quais a alma fica inquieta e a nostalgia faz rebuliço no coração. Gosto da saudade da infância e do cheiro de bergamotas amarelas que enfeitam a frieza dos trilhos do trem.
Gosto de ver o rio abraçando os morros.
Gosto dos pareirais cubrindo os montes num tapete verdejante.
Gosto de ver a nona mexendo a polenta na grande panela sobre o fogão à lenha e o nono bebericando mais um copo de vinho.
Gosto de me sentir de volta, no ninho onde nasci revivendo coisas que só uma vez vivi. Gosto de gostar de tudo isso e de me estranhar no reencontro comigo mesmo....

11.12.12

querer...

eu queria querer você todo o dia.
que queria te enfeitar de alegria.
eu queria ser as estrelas do céu
e iluminar teus caminhos, teu vestido e teu véu.
queria querer você sem medo algum.
queria ser vento, tempestade e paixão...
queria ser teu homem, teu nobre, teu escravo teu sim e teu não.
eu queria roubar flores no jardim
pra enfeitar teus cabelos, teus seios e teu chapéu.
queria ser teu soldado e teu general
para te proteger de todo mal.
queria ser teu bem teu além e teu ser.
queria ser o teu desejo, teu beijo e teu encanto.
queria ser muito mais que um poeta e um canto.
eu queria querer você todo dia,
queria ser tua música tua melodia
cantando em tuas noites as notas do infinito.
queria você aqui perto de mim.
queria ser o futuro e não o passado,
ser teu presente e teu eterno namorado.
eu queria querer e poder tudo o que quero.
enquanto não posso ainda te espero...

6.12.12

DESENCONTROS


Quando os dias se encontram provocando o desencontro com o dia anterior, a alma chora. Luto silencioso...

- Cabe a quem julgar o descabido?

- De onde venho e para onde tenho ido?

A memória se perde na criação. O dia encontra, na mesma noite, o início e o fim da despedida. Morte que chora reencontrando a vida.

Às vezes, mas somente às vezes, me dou esse direito prazeroso mesmo com o risco do efeito delituoso.

Entre o devaneio que aquieta a mente e a demência, um lapso de sentido.

- Perdido?

- Talvez.

- Mas quem se encontra em meio a tantos desencontros esquecidos?

2.12.12

Culpa dos teus olhos...

Ouço ao longe tua voz que me fala de coisas cotidianas, coisas humanas e coisas irreais, coisas que eu não posso ouvir, estou embriagado pela luz do teu olhar. Fico assim, mergulhado nesta imensidão desconhecida, instigante, sedutora.

Dispo minha alma sem pudor, ficando livre para teus olhos penetrarem no meu ser, agora não ouço mais nada que venha da tua voz, permaneço assim, perdido no desejo de encontrar-te e na necessidade de te querer.

Meus lábios buscam inconscientes pelos teus lábios que se movem numa dança sedutora deixando fluir as palavras que tanto queres que eu ouça, meus olhos estão imersos na impetuosidade do teu olhar.

Num pequeno instante de lucidez envergonho-me da cobiça e fujo dos teus olhos, fixando meu pensar nas palavras que agora gritam nos meus ouvidos, e tento associá-las a qualquer coisa que me seja útil para desviar-me de você.

Não obtenho êxito algum em tentar me manter indiferente diante de você, é insano te querer, mas agora já não adianta mais pensar assim, percebo-me novamente embriagado pelo teu olhar, que me seduz diabolicamente.

Desisto da luta que se travou entre meus anseios e aquilo que trago na bagagem moralista que me foi designada, já não me importo com nada, apenas com tua voz suave e teus braços angelicais que me enlaçam num abraço derradeiro.