8.3.14

Despedida



É preciso ir além.
Rasgar-se ao meio,
Qual Andrógino grego.
É preciso precisar.
Ultrapassar além do tejo.
Uma casa pequenina,
Na histórica Colônia.
Um banho de mar
em aguas cristalinas.
Jardins da Babilônia.
É preciso transgredir.
Para chegar,
É preciso partir.
Consegues abandonar o teu porto?
Tens coragem de abrir velas e afastar-se,
Talvez até nunca mais?
É preciso partir.
Longes mares te aguardam.
Tempestades espreitam teu caminho.
É preciso abandonar o ninho outra vez.
Rasga-te mil vezes.
Rompe os grilhões que te acorrentam.
Torna-te um desses poucos que inventam.
É preciso sair do meio dos muitos.
Enxerga aquilo que os outros não vêm?
Traz em tua alma os pesados trilhos de um trem?
Abandona a estação antes que a ferrugem
Também devore o que te faz de ferro.
Acorda o pássaro adormecido.
Ergue teus sonhos já caídos.
Por que te deixou congelar?
Vai. Vai correndo. Vai de uma vez.
Vai porque preciso ir.
No caminho dar-te-ás um jeito de costurar.
Se não quiserem ir contigo,
Vai sozinho mesmo, como sempre foi.
O que não te acompanha não te merece.
Precisas de tão pouco para ser o que é.
É preciso partir.
Toma teu rumo.
Não volte atrás.
É preciso ir.
O que não foi já passou.
O que passou, não volta mais.
Pra onde vai?
Não pergunte, apenas caminha.
Na estrada aprenderás a ler o mapa
Escrito dentro de ti.
Mas o que ainda faz aqui?
Vai logo antes que seja tarde.
Veja, já cai o sol no horizonte.
Agora é uma boa hora de partir.

Tecnologia



Nesse mundo tão tecnológico, com mais técnica que biologia, poderia, num derradeiro dia, algum técnico enlouquecer. Então ele se trancaria no laboratório: pesquisa, ampulhetas silenciosas, geriboscas miraculosas, dias, noites, outros dias, mais noites sem dormir, até descobrir. Sairia orgulhoso com seu mais novo invento: uma gerigonça que ouve as mesas de bar. Pôr-se-ia a experimentar.
Uma mesa e outra mesa, seu aparelho ouviria fazendo anotações precisas e matemáticas. Comprovadas como deve ser toda boa ciência. As pessoas fariam filas para saber ou confirmar o experimento.
Um diria:
“ – É loucura essa invenção. Matem esse maluco. Nunca disse tal falsidade.”
Outras, no entanto, pôr-se-iam em profundo pranto:
“- É verdade. Eu mesmo conto o que essa mesa lembrou. Foram nesses exatos termos que meu amor terminou.”
Ainda viriam aqueles amigos, ao tomar conhecimento desse mais moderno invento, pra ouvir a mesa lembrar:
“ – Diga-nos, querida mesa, quantas cervejas tomamos juntos?” E sairiam satisfeitos por terem, por fim, dado um jeito na dúvida que ficaram ao sair.
Pense que maravilha seria, se com o auxilio de tamanha tecnologia, a mesa de bar de tudo se lembraria?]
E você, teria coragem, de se submeter à audição de tal aparelhagem?

Brinde



Um brinde aos desajustados.
Aos que nasceram no tempo errado.
Aos que vieram cedo ou tarde demais.
Um brinde aos poetas entristecidos,
Que fazem versos sofridos.
Aos filósofos que fazem pensar aos demais.
Um brinde de Chardonay em Palermo,
Na noite castelhana de bicicletas na rua.
Um brinde à lua por me escutar.
Um brinde aos que nunca brindam,
Porque estão presos e temem a liberdade.
Um brinde aos amantes transeuntes.
Aos que deixam saudades na mesa do bar.
Um brinde aos que brindam,
Porque sempre findam a se amar.
Um brinde aos que ainda não morreram.
Aos que foram e sofrem sem voltar.
Brindemos porque depois da morte não bares noturnos,
Não escuro nem sol.
Um brinde ao brinde que leva o medo.
Um brinde em segredo.
Desejos de renascer no tempo certo.
Brindemos aos desajeitados
Que se ajeitam na boemia.
Um brinde, enfim, ao fim do dia.
Um brinde nessa companhia
Que me dá alegria em brindar.

Cosmologia



Hoje decidi morrer
Nos braços de um tango.
Beijando a Bossa Nova.
Morrer feito estrela.
Renascer nebulosa.

Almodóvar



Existem pássaros que voam sem asas.
Visito casas que não voam.
Há sempre um espaço entre a pausa.
Para toda dor, existe uma solução.
Insisto na palma que segura a alma.
Noites de tango ao luar.
Em Bar Sur, noite de San Telmo.
A ti me entrego em letra de Almodóvar.
Renascer em tempo não vivido.
Teria eu mesmo nascido?
Morrido cedo demais?
Beija-me noite morena.
Faz-me dormir no tempo.
Ao relento.
Acordar?
Jamais.

Encontro



Naquela noite o tango me arrancou a alma.
O vinho, intenso rubi, sangrou a epiderme.
Era poesia em versos de saudade.
Tom, Tom, Tom, violancelo batendo no piano.
Trim, Trim, Trim, violino dizendo sim.
Musa de cabelos negros derrubados sobre os braços meus.
Quero a noite da alma arrancada sem adeus.
Beijos embriagados de melodia.
Viver a noite sem esperar o dia.
Em Buenos Aires, perdi-me em bailados que afogam a dor.
Encontrei-me em meio ao tango, aconchegado de amor.

Alquimia



Ele era do tamanho do infinito
Dividido em dois.
De um lado tinha tanto amor
Nenhum sonho era impossível.
Do outro lado, mármore envelhecido.
Um dia saiu de casa e
Esqueceu uma das suas metades.
Se desmanchou em prantos.
Arrastando-se sobre uma das asas
Ainda não quebrada,
Encontrou abrigo entre duas rochas.
Agora já não era metade nem inteiro.
Derradeiro, era chuva molhando a pedra.
Ardência pura.
Cadência de voos de coruja no escuro.
Raios de sol rasgaram a nuvem
Quebravam-se no muro.
A outra metade sequer se moveu.
Ficou lá.
A única que sempre foi vista por todos.
Por isso mesmo até hoje ninguém sabe
Que a outra metade também viveu.
Vivia escondida do outro lado da rocha.
Descobriu, tarde demais pra remissão,
Que havia petrificado a metade coração.

Criação



I

Existem mulheres tão bonitas
Que tenho sérios motivos para acreditar
Que Deus as fez nos finais de semana,
Enquanto degustava o melhor vinho do Porto e
Fumava um aromático cachimbo irlandês.

II

Existem mulheres tão belas, mas tão belas,
que tem o direito divino de tornarem-se feias a
qualquer momento e mesmo assim continuar belas,
de tão belas que são em corpo, alma e espírito.

III

Mulher não merece essa coisinha de Dia Internacional da Mulher.
Mulher é dia, é noite, é intergaláctica o tempo todo.
Então não faz mal que se destaque um dia só para nos lembrar disso.
Porque na prática mulher é feitiço.
Porque mulher é o encantamento da vida.
Porque mulher é poesia, é arte, é magia.
Porque dia da mulher é ser Mulher todo dia.

Reminiscência


Houve um tempo no qual já amei.
Era bonito.
Tinha sonhos na alma,
No peito, um grito.
Um tempo que me chamava esperança.
Tinha desejos selvagens.
Espalha beijos de criança.
Um dia, também amei.
O tempo passou.
A criança cresceu.
O selvagem foi domado.
O peito, partiu.
O amor sumiu.
O sonho me abandonou.
A alma, esvaziou.
Hoje estou triste e só
Lembrando o dia que amei.
E amanhã, quem serei?

Abrigo



Escrevo com o dedo na areia.
Sereia.
Grito com a boca no pranto.
Canto.
Viajo no espaço aberto.
Deserto.
Vivo o nascimento.
Pensamento.
Investigo o caso perdido.
Perigo.
A sereia no deserto
Repete o canto do pensamento desperto.
Abrigo.

Invenção



O avião é um passarinho feio.
Parido da cachola de Dummont.
Cresceu demais.
Muita lata.
Nenhum coração.
Se, ao ser registrado,
O escrivão, ao Dumont tivesse
Um “r” acrescentado,
O avião teria mais poesia.
Seria menos enlatado.
Se, em Drummond, Dummont
Tivesse se inspirado,
O avião seria belo e, talvez,
Jamais voado.
Para resolver esse dilema,
Drummond sacou um poema:
Macaco pulando em galho torto.
Dummont, engenhoso, rabiscou um esquema.
Infeliz, inventou a escala em aeroporto.
Avião e poema.
Aviador e poeta.
Coisas que deram certo.
Um leva pra longe.
Outro
Te traz pra perto.

Pescaria



O pensamento é um passatempo.
Coisa que a alma inventou.
Acalma o tempo, a dor e o que já passou.
Pensar. Penar. Passar.
Transbordar o presente
Lançamento de dardos na escuridão.
O pensamento é um passatempo.
Voo sem asas de avião.
Pulo na solidão.
A composição dos ventos é da mesma natureza.
Suspeita da decomposição dos pensamentos.
Degustar um cálice de vinho do Porto
Com a mesma cerimônia que o padre reza um morto.
Não é fuga do tema. Senhores gramáticos.
O pensamento tem essa liberdade e
Menos dilemas que seus supostos argumentos práticos.
O pensamento é um passatempo que não passa.
Espinha a linha do corpo.
Torto caminha rumo ao coito.
Seguro, enfrenta a noite.
Silencia o barulho.
Não teme o açoite.
Foge sem ser perseguido.
Escapa, do grito algoz, ferido.
Sombra que imita a luz.
Enfrenta o diabo carregando a cruz.
Tormenta.
Cutuca o moribundo.
Louco fantasma sem lençol.
Carrega o peixe no anzol.
Flores sem primavera.
Dores de vida em qualquer estação.
Flores de primavera sem verão.
A linha do porto espera o morto.
Valente abatido em batalha real.
Estampido de guerra em espera.
Quisera um dia apenas criança.
Esperança iludida.
Mentira banal.
Vai colher flores nas nuvens.
Ouve atento o mergulho do peixe.
Se fores, do pensamento a linha deixe.
Deixe pensar e pescar em silêncio.
Pescar a noite.
Comer o dia.

Teatro



Se te sofres de solidão.
Saia a Buenos Aires.
Ponha-te a andares.
Vá volver teus pesares
Em plena ópera “del Teatro Colón”.

Surto


Inconstância desenfreada.
Noite fria.
Madrugada.
Inverno.
Inferno.
Geada.
Sol nasciturno.
Parada obrigatória.
Porta giratória.
Vai-e-vem a alma.
Refém da não calma.
Serpentes no peito.
Beijo ardente no leito.
Constante.
Inconstante.
Rompante.
Homem de ferro.
Berro no escuro.
Mulher gato no muro.
Menino falante.
Dia de sol.
Verão.
Arrebol.
Purgatório.
Velório.
Inconstância controlada.
A vida é mesmo
Desenfreada.

Vagalume



A luz, presa ao teto
Vagalume sem asas.
Deixa às claras o
pensamento descoberto.
Asas sem vaga-lume.

Escola



Está decidido. Escolho morrer de úlcera nervosa. Todos escolhem, mesmo que inconscientemente, a forma de morrer. A maioria sempre escolhe morrer de forma inconsciente. Infelizmente são muitos os que também inconscientes vivem.
Ao tomar consciência entrei em crise existencial. Um devaneio alucinado para dentro do desconhecido eu ao qual nunca fui apresentado. Na verdade, a morte foi uma pauta imposta que tive que incluir no planejamento d volta. Caminhos sem sentido, abertos a marteladas por aqueles que julgam saber os motivos e o exato destino.
Começaram, então, com a teimosia reflexiva. Crises nervosas coroem o estômago. Pior efeito, somente o uísque barato que engulo na solidão noturna.
O homem discute a humanidade do alto da tribuna da razão. Economia, política, saúde, arte, educação. Tantos zumbidos repetidos em tons e semitons variados e desafinados. Taquicardia. Ataque de nervos no coração.
“- Vamos criar uma escola!” Grita o profeta na multidão.
“- Vamos!” responde a massa esperançosa prenunciando a enganação.
Inconsciente coletivo. Todos mãos à obra, construindo a máquina da salvação.
O problema surge no dilema:
“- O que ensinar nesse processo paranoico de industrialização?”
Marcham todos e o púlpito do saber é ininterruptamente requisitado. Colóquios, seminários, aulas, pesquisa metafísicas, escrita, palavra dita. Tudo para dizer o já escutado. E a máquina funciona. E o processo tá falho.
Saem dali diabinhos medonhos e anjos fraturados.
Não aguento mais. Já estou dilacerado de vergonha e raiva. Muita coisa enganosa.
Internado, já fui diagnosticado pela mater sapiência:
“-Decretado pela ciência, vai morrer de úlcera nervosa.”

Escolinha



No caminho da escola
O menino pensava.
Na sala de aula ensaiada
O menino caminhava.
Ideias pequenas.
Grande saber resoluto.
Conhecimento diminuto.
Estudar é Narciso.
Brincar é preciso.
No caminho da escola.
O menino brincava e sorria.
Na escola o menino parava,
Perdia o riso e o dia.

Chorar



Às vezes eu choro, mas não é de tristeza, nem de saudade, nem por causa da dor ou do amor. Choro, por causa da certeza de tantas possibilidades da vida perdidas pela mediocridade humana e da minha insignificância de um aceitar solitário. Choro pelo aceitar que não é solidário. Não que me faltem companhias que choram pelo mesmo motivo. Chorar, pra mim, não é covardia e nem desespero, isso não vale nem sequer uma lágrima. Chorar é quando a alma não consegue escrever poesia, é quando a vida é cheia, mas se torna vazia. Viver sozinho é uma opção, mas morrer em conjunto, fingindo ser vida, é covardia. Sonhar com o que é perfeito é falta de razão. Viver como se fosse sozinho no mundo, é falta de emoção. Não ser coerente é falta de coragem. Chorar porque a vida dói é falta de realidade. Apenas reclamar, é falta de iniciativa. . Iniciativa sem responsabilidade é falta de caráter. Às vezes eu choro. Sou um poeta. Não aguento o que é pouco e o que tem regras demais. Minha regra é seguir em frente, mesmo que seja necessário chorar às vezes.

Insolação


O Sol queimou mais um pedaço da noite.
A noite mergulhou em luar ainda ensolarado.
Cuidado com a insolação.
Entre dias e noites confundem-se o sonho e a realidade.
A saudade é o gosto do que foi ainda há pouco.
A esperança, uma centelha que sobrou no coração.
É possível estar vivo mais uma vez ao amanhecer

Afogado



Sentia e sonhava
Com a alma de um século atrás.
Vivia a estrela D`alva
Com a intensidade de dois mundos.
Ansiava, em devaneio
Com a perspectiva de uma década à frente.
Às vezes era poeta.
Às vezes era moderno.
Outras, semente.
Por hábito, cultivava solidão.
Por descuido,
Ainda tinha coração.
Plantou no mundo um menino
Pequenino e faceiro.
Pensou que era jardineiro.
Descascava livros à sombra da laranjeira.
Fumava um cachimbo de benzedeira.
Nunca descobriu nem sequer viu,
Em que mundo nasceu ou viveu.
Era sempre diferente
Daquilo que parecia ser sempre igual.
Era lágrima murcha.
Secou a dor num banho de mar sem sal.

Entardecer


Tarde que anoitece cedo.
Medo de Girassol.
Fuga pelo beco sem saída.
Recaída em Dó, Lá, Sí BeMol.
Saudade aberta na derme fria.
Caída, a alma derrete.
Inerte, coa pela fenda na terra.
Entardecer que nunca encerra.
Sentado na calçada
Se enxerga na pedra.
Espera.
Espera.
Espera....

Infantil


Tenho sonhos de criança
balançando nos teus cabelos.
Tenho medos e esperanças se
entregando aos teus segredos.
Vivo como um Saci equilibrista.
Uma perna real e a outra de artista.
Fumo um cachimbo de Preto Velho.
Moro secretamente na pupila do teu olhar.
Brinco de ignorar o mundo astuto.
Hora sou anjo em cítara.
Outrora, piso bruto.
No final sempre volto a ser pequenino,
Pedindo colo matutino.
Acordo protegido da noite.
Dormido em acordes.
Saio a catar conchas aladas.
Volto para uma cantiga de ninar.
Durmo com sonhos de criança.
Acordo com desejo de não acordar.

A caminhada

Sem conhecer o destino
Chegou a algum lugar.
Braços de menino
Incentivaram voar.
Fica sempre um caranguejo
De saudade no peito,
Pedindo pra não partir.
Por que ficar, sem jeito?
Por que não ir?
Segue o caminho sem pressa.
Tampouco caminhe muito devagar.
Sem conhecer o destino
Caminha, menino, caminha
Sem parar.

Vida noturna

A noite fugia em passos trôpegos
Passa passarinhos e corujas com olhos de bolita.
A noite às vezes é triste, mas sempre é bonita.
Tem lua que brinca de metamorfose
Tem overdose de sonhos e namoricos.
A noite adormece pobres e ricos.
É sempre noite com fôlegos em êxtase
Noites solitárias e noites solidárias.
A noite traz a esperança de outro dia,
Afoga em passado o dia que já se foi.
Dizem que à noite "todos os gatos são pardos".
Mas sempre há leopardos que saem ao anoitecer.
A noite é pra dormir, mas também é pra sorrir,
A Noite é pra viver.

Química existencial

Sou a fusão de dois átomos
Em um complexo sistema
De partículas quânticas.
Sou a simbiose da metásteses
Na hipotética síntese de uma
Rebuscada dialética filosófica.
Sou a ebulição da fervura numa cadeia
Intrínseca na tabela periódica.
Sou um filósofo ermitão
Perambulando pela nova
República de Platão.
Sou um matemático contando estrelas
Elevadas à vigésima potência existencial.
Sou tudo o que desejo ser
Sem preocupação com a contradição
Que vá para o inferno a coerência lógica.
Sou esse que ainda não sei
E que você também não poderá dizer.
Sou você e assim,
Nos desconhecemos estranhamente.

Ateísmo

Quando quero fugir
Da possibilidade da existência divina,
Marcho em fuga reta
Para uma igreja coberta,
Confesso meu medo revelado
Ao primeiro padre bastardo
Que use estola e batina.

Acadêmico

Meu papaizinho
Sequer estudou
Dois ou três anos na vida.
Eu, em pouco tempo,
Fiz duas faculdades:
Uma pra mim,
Outra por ele.

Minha mãezinha,
Que jaz em sepulcro distante,
Nunca escreveu um texto
Científico.
Eu, em tempo exímio,
Fiz mestrado e especializações,
E publico.

Vivo e ganho a vida
Entre os sábios e doutos.
Fico tão absorto
Que ainda não encontrei,
Entre centenas de livros lidos,
Lição de vida e amor maior
Que meus pais já não tenham sabido.

Agora, vendo bem perto,
Entre meus pais e eu,
Sou o único analfabeto.